MALDITA OVERDOSE

Oh! Maldita overdose!Lembrar-me-ei

Daquela que para trás deixei

Fazendo uso da morte, sendo narcose.

Foi regida por uma superdose

Não sou mais sujeito iluminista

Nem tão pouco sociológico

Estou nas rédeas da modernidade tardia

Sofro a mutação identidária

Oh, maldita overdose!

No labirinto, estou.

Sem fio de Ariadne

Sem ajuda de um Dédalo inventor.

Sou as asas de Ícaro derretidas ao sol

Oh, maldita overdose!

Alguém disse que o poeta é fingidor

Com esse discurso, não concordo.

Eis aqui a razão. Qual parturiente

Assim sou eu, dando ao rebento à dor.

Oh, maldita overdose!

Sinto as contrações vilipendiando o meu ser

Há um rompimento impiedoso

E nesse processo sem fim de rupturas

Deixo eclodir o meu grito de angústia

Pandemônio! Pandemônio!

Oh, maldita overdose!

A minha filha é parricida

Deixei a nascer, porém...

Ela não me deixou viver

E agora além de parricida é suicida!

Oh, maldita overdose!

Tu levaste minha filha

Transpassaste-me com dardo ardente

A minha alma em transe

Levaste-me ao rio caudaloso

Ao oceano lagrimal

Definir-me-ei “poeta maior”

Escritor da epopéia lusitana

Qual poeta lusitano, assim sou eu

Náufrago, vitima das tormentas

Que perde sua Dinamene

Mas, não aos seus escritos.

E assim, vou cantando.

Oh, maldita overdose!

Aderlan Gonçalves
Enviado por Aderlan Gonçalves em 30/08/2009
Código do texto: T1783091
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