ANDANÇAS
I
À noite, andando pela rua
Numa completa abstração,
Eu sinto a paz que me atenua
O espírito da agitação.
Livre, guiado pela lua
E sem o mal da solidão,
Eu sinto a alma toda nua
E sinto nu meu coração.
E me é tanto o prazer de andar
Alheio às desgraças do mundo
Que eu sinto minhas pernas no ar
E sinto meu ser mais profundo.
E a mim que importa chegar,
Se o mundo é um saco sem fundo...
II
Sigo na noite, sozinho, abatido,
Sem rota, sem destino, sem futuro.
Procuro, mas não encontro o que procuro,
É como se eu tivesse me perdido.
Sigo na noite, tristonho, vencido,
Contemplando além o caminho escuro,
Como um anjo peregrino, perjuro,
Diante da face do Desconhecido.
Vou deixando minhas pegadas no chão
E me projetando na imensidão,
Como um judeu errante, nu, proscrito.
Para trás vou deixando eras passadas
E à minha frente encontro as mil fechadas
Portas intransponíveis do Infinito.
Vagner Rossi