SOL DE OUTONO
Cálido, caliente
esplendor em cascatas de luz
sou folha errante
neste dia de brumas delicadas.
Em sinuosos movimentos
construo a dança
dos tempos.
Minh'alma se espreguiça
ao teu abraço.
Sou toda claridade
ao som dessa sinfonia
de folhas alteradas.
Na minha trilha
tapete multicolorido
resíduos com cheiro da terra.
Meu astro, estrela dourada
que ilumina os trigais
Deus onipotente, disco resplandescente
que espanta o nevoeiro
e risca o arco-íris num céu semi-obscurecido
diante de ti enlangueço.
Meu sol outonal, traz-me memórias
de séculos, milênios,
de derradeiras visões no campo de batalha.
Jardins perfumados
tamareiras, palmeiras
oásis no deserto.
Janelas iluminadas, beijos, mãos dadas,
contornos de luz que revelam
definivamente
clareiras incandescentes
reflexo de águas cristalinas
doidas marés
insetos zombeteiros
perfis, o corpo inteiro
um lenço, a fera , o tiro
e a lágrima dos dias tristes.
Em dias de outono descubro
o novo em tudo que já vi,
em minh'alma recantos inusitados
alegrias novas nas histórias antigas
as pessoas mais amigas
as tristezas esquecidas
até as certezas se abrandam
os temores arrefecem
a saudade se desmancha
a natureza estremece
nesta estranha contradança.