À sombra da Lua
Pó de arroz descendo, minha noite florescedo,
ondul'o teto lenitivo de frescor que apazigua,
com incríveis atrativos na chuvarada contínua.
Mistério que risca meus ouvidos sussurrando!
O veneno serpentino abre fé em meus punhos,
minh'alma nas mãos, catando cacos quebrados,
em recusa acerba a tantos projetos hediondos,
dôo à lua a hóstia sangrada em meus caminhos!
Troco sulco de rugas pelo passo veloz do vento,
plagio a face da cor fruteira de matiz agreste,
colo no corpo rito aborígine su'órbita mudando,
e meu eixo rubro se apruma na chama ardendo!
Recuso oferendas que privem tamanho torpor,
desejo ungir-me cupidamente a este esplendor,
bebendo a seiva hormonal que a alma alimenta,
soltando-a dos pés cujo exílio deveras assusta!
Que ao cobrir-me com véu de fulva prata, a lua
se enxerte na minha pele de labirintos pesados,
e me purifique nas poças tímidas da malha sua;
serei a tatuagem perpetua bucólica dos prados!
Amantes ditosos conquistam os abismos da paz,
ond'os sorrisos massageiam a dificuldade fugaz,
mudando cada peça nociva que as almas ameaça
abolindo qualquer imaginação abusiv'e devassa!
Raia o novo ciclo com exclusiva aurora nascendo!
entre os suspiros secretos o elo platônico sólido,
baixando a voz da linhagem jovem da lua branca,
que saboreia as gotas da lua da sua agreste óca!
Grenoble-Fr-28/05/2006