MELANCOLICAMENTE DESAMPARADO
Foge-me sem jeito o tempo,
Corre-se-me de minha vista;
Aglutina-se em mim a anestesia:
tomado por uma intensa paralisia.
Embriaguês ao sabor do incerto,
De um Afeto não mais perto;
Escoam-se lágrimas deste olhos:
de tão vermelhos desistem da tristeza.
Porém a angústia permanece,
Inaltereda não desaparece;
Um toque frio do vento:
sensação obscura abaixo de zero.
Toque de recolher, ando...
Para onde e até quando?
Desatino cruel da dúvida:
perdido, mais em mim me desencontro.
O choro da flauta em seu canto
À distância reconhece o meu pranto;
Chorando semelhante saudade:
dispomos à multidão nosso perecer.
Perambulo em meu vazio,
Acompanha-me um calafrio;
Meu destino inoperante:
passivo vivencio minha dor...
Dor que não se acaba, martirizada,
Agonia incessante, desenfreada;
Arrebenta meu coração:
de tanto sofrer já não tem mais noção...