ACONCHEGO INVERNAL

Propícia manhã de sono

Não há céu pela janela

Pelas ruas, abandono,

E a brisa fina congela.

Retorna ao ninho a garriça

Calam-se vozes e trinos

Até os sinos da missa

Repicam roucos os tinos.

De tapa-olho e capuz

Dorme o sol às nove e meia,

A praça com pouca luz

Induz que o sol não clareia.

Calçadas mudas, sem pio,

Só uns dispersos garis

Palavras fumam de frio

Mesmo que nada se diz.

Manhã pra sonhar com ócios,

Reduzir o mundo ao nada,

Proibir-se fazer negócios

Dar-se inteiro à sua amada.

Quem tiver alguém que ama

É bom nem abrir o olho

E no aconchego da cama

Botar as barbas no molho.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 29/05/2009
Reeditado em 04/06/2009
Código do texto: T1621750