CIRANDA DE LEMBRANÇAS
Sharik Letak
“Fui no itororó
beber água e não achei,
Encontrei bela morena
Que no itororó deixei”
Ah! inocência bendita
Dos tempos que lá se vão.
Não entendia a escrita
Mas solfejava a canção.
O que era itororó
Eu não compreendia, não;
Mas a cantiga de roda
Não saiu do coração.
Nem sei se era o som que vinha,
Ou se eram os olhos dela,
Ou as mãos dela nas minhas,
Atravessando a pinguela.
Só sei que o mundo girou
A roda-viva da vida,
Mas da alma não levou
Aquela imagem querida.
Se sou feliz? Que direi?
Sou o que a vida me fez.
Ri, sofri, perdi, ganhei;
Sou do destino o freguês.
Para atrás jogo lembranças,
Varro uns olhos da memória,
Mas vem a imagem, avança,
E segue, assim, minha história.
Será que eu quero, mesmo,
Esta lembrança apagar?
Lembranças são sonhos, a esmo
Nas asas do tempo, a voar.
Se vôo, voam comigo,
Eu não posso evitar.
Voltar atrás não consigo.
Então, só resta sonhar.