Quando eu contava estrelas...
As vezes lembro-me ternamente
Do tempo em que a gente contava estrelas
Contávamos mesmo! De verdade!
E quanta pureza !
Havia naquele ato de criança
Penso que cada estrela ...
Era uma gota de amor a nos alimentar
E nós as contávamos quase todos os dias
Sempre envolvidas, pelos laços afetivos familiares
Nesses momentos! Papai e mamãe
Costumavam sentar no batente da porta
Ou na calçada pra prosear
E também ouvir um velho rádio
Aí, ficávamos bem pertinho deles
E enquanto os escutávamos
As estrelas com sua magia nos seduziam
E logo começávamos a contá-las
Como também
Procurar agrupamentos das mesmas
Que se assemelhassem
Com animais, plantas, objetos e outras coisas
Do nosso pequeno mundo
E nossa mãe, que gostava de contar histórias
Nos dizia que contar estrelas fazia mal
E a gente ia ficar cheinhos de verrugas
Uma crendice do nosso povo
E assim, quando chegavam as verrugas
Pensávamos logo no que mamãe dizia
Mas, sempre havia outras crendices
Que conseguíamos fazer
Pra acabar as tais verrugas...
Passar casca de banana
Passar cuspe em jejum
Passar leite de algumas plantas
Beber água em jejum e falar o nome de Maria
E outros meios
Bem! O fato é que as verrugas iam embora
E novamente lá estávamos nós
Em lindas noites do campo
Aconchegados no seio familiar
A contar as reluzentes estrelas
Que pareciam nos chamar
Pra cantar e brincar de rodas
Junto a elas, lá naquele céu...
E quando no terreiro de nossa casa
As crianças da vizinhança se juntavam
Em noites de lua clara
Deixávamos nossos pais a prosear
E presenteávamos nossas estrelas
Com as mais lindas brincadeiras
E cantigas de rodas
Nesses instantes!!!
Pela força da magia
O céu baixava sobre nós
E seu manto bordado de estrelas
Colocava em nossa inocente alma
Uma singela gota de amor.
***
Fátima Alves - Poetisa da Caatinga
Natal,18.04.09
“ Dedicado a todos os adultos, que um dia contaram estrelas”
Texto publicado no meu livro "Retratos Sentimentais da Vida na Caatinga"
Edição do autor - 2010
Imagem do Google








 
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 18/04/2009
Reeditado em 23/02/2017
Código do texto: T1546724
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