UM DIA DE MADRINHA.
 
 
Écloga primitiva.
 
 
Vai, vai, boi!
Rangendo o ipê da engrenagem.
As meninas tagarelam num canto,
Limpando a grossa mandioca,
Com a paciente raspagem.
Vai, vai, boi!
É o tio que aperta a prensa.
Do estalo se assusta o novilho.
É a madrinha,
Lavando a branca massa,
Em água leitosa de polvilho.
Vai, vai boi!
O fogo no forno crepita.
É o gemido apertado do tipiti,
Modulando o cantar das comadres,
Na copa da velha araucária,
Canta triunfante o bem-te-vi.
Vai, vai, boi!
De canga apertada no pescoço.
Melodia no carro de eixo ensebado,
Que avisa sonoro, um novo ensaio,
Aos rapazes, o difícil morro,
Buscar a mandioca de balaio.
Vai, vai, boi!
Triste chega à noite.
Finda o dia estafante
Vai, vai, boi!
Ruminar deitado, babando,
No teu palanque.
Vai, vai, boi!
Amanhã, outra dura caminhada.
Vai, vai, boi!
Acariciar a tua amada,
Com o teu bafo quente,
Depois duma jornada.
É o boi.
É a mandioca.
É o tipiti na prensa.
É a massa esmagada.
No tanque o polvilho.
No terreiro o porco.
Na corda pastando o novilho.
As meninas cantando.
Os homens ordenando.
Os rapazes ensacando.
A poenta farinha.
Assim, são todos os dias
De certa Madrinha.
 
 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 16/04/2009
Reeditado em 16/04/2009
Código do texto: T1542761