Fala a natureza
Porque serà que sempre que nos deslumbramos
com alguum panorama d’estranha beleza somos
diversos, e noss’alma se enfeita nos Bàlsamos,
impregnando-se de essência pura e suspiramos,
no intenso suspiro multiplo dos mil personagens
que vestem a nossa roupa agreste ora emprestada
pelo rei absoluto do Mistério doirando paisagens,
onde nada se explica, com tanta bençao recebida!
Na quietude das grutas sombrias e desconhecidas,
de rarissimo frescor vertendo da grossa parede fria,
desfilam o monarca, o indio, o pàssaro, a ventania,
que a nossa doc’alma habita em sigilosas escaladas,
por entre mil florestas milenares qu’inda guardam
o perfume embrionàrio e silvestre da fera e do anjo,
contando mil historias nossas de sombra e lampejo,
vida e morte se opondo ao tempo em que verdejam !
A solitude paciente nos explica nas vozes da selva,
sobre o sol santo luzindo na caverna que tanto salva
quanto aprisiona o que dos Misterios reserva receio,
por nao se reconhecer como o anjo do céu que veio!
E os riachos ! Ah os longos riachos devoram os mares,
invasores, a sublime e selvagem melodia lhes roubam,
chacoalhando as pedras, peixes,sonhos e tantos olhares
hipnoticos de encanto que a uma so pessoa nao bastam !
Por ist’e muito mais meus personagens s’aliam e cantam
que ao profundo do pélago entreguem os rios suas àguas,
maleàveis,vitais, caladas,pois hà fontes alvas continuas
que sempre renascem do fundo das rochas e se levantam,
quando dormem os pàssaros amigos vigilantes do vento,
para estrondosamente arremessarem do alto, muito alto,
seus véus efervescentes, translucidos,cheios e apressados
para sulcarem seus leitos aventureiros,de seiva alagados!
Deslumbrante passeio, minh’alma serena tanto caminhou
que se desligou do bulicio atroz e finalmente descansou
no Bàlsamo dos Bàlsamos,para sentir-se o que realmente é,
herdeira absoluta d’abençoada candura qu’a abraça com fé!
Grenoble-Fr-11/05/2006