Segredo
Fardo pesado este que levo em minha fronte
Dia a dia, somente fumaça, desgraça ao horizonte
E das caveiras mais horrendas levo a imagem
De uma parte de minha vida, uma passagem,
É como a nuvem, tenebrosa, que traz dilúvio
É como o pesar do jovem moço já viúvo
Vida regada de desamores, dissabores vis
Uma cabeça decapitada ao vinho em meus barris,
É um sangue fétido e já coagulado que traz medo
Fardo pesado este que levo em meu segredo
De alegrias por horas entorpecido ou em sono
É que eu tiro u’a esperança, finda, mero sonho,
Um jovem regado à desilusão em forma d’água
Do que respiro e me alimento, vomito mágoa
Frio como um gelo, como um corvo adestrado
Maldizer-te-ia em minh’alma até o fim, calado!
Viver teu ventre, podre, que é da mais suja falácia
É sonhar demais, viajar ao inferno como se vai à praça
Ocupar meu sonho com tua imagem – ódio de mim!
Quero um ode á tua malfeitoria na lápide do meu fim.