Francisco
Tinha nome comum, Francisco
Olhos claros e cara de arisco
Atitudes de insatisfeito
Tez clara, dentes amarelos
Brilhantina em seus cabelos
Tinha um estranho olhar perfeito
Minhas palavras não são tão boas
E minhas rimas, tão à-toas
Sequer conseguem aludi-lo
Mas persisto, sou teimoso
Tenho orgulho e sou talentoso!
Talvez por isso tente defini-lo
No samba, no choro, na bossa
Defendendo gente nossa
Ele encantava com a voz
Com rimas, sonetos, alusões
Textos cheios de opiniões
Impressionava a todos nós
Seu nome era Francisco
Tão comum, tão arisco
Tão difícil acreditar
Que de nome tão normal
De atitude tão magistral
Tal gênio pudesse falar
E falava do bem, do mal
Do crime, do social
Sem medo das consequências
Não ligava para opressão
Derrubava um pelotão
Desestabilizava as paciências
Hoje está recluso
Escreve livros, tão profuso
Em seu mundo particular
Onde está o poeta das massas?
Das ironias e das graças?
Onde ele pode estar?
Quem sabe ainda exista algo
Algum punhado tenha sobrado
Do poeta que nos deixou
Um sonho, muito calado
Um verso, algum punhado
Do homem que restou
Um homem de nome Francisco
De olhar tão arisco
De tristeza na expressão
Um homem de muitos nomes
De pouquíssimos canones
Um homem de valiosa opinião