ESSA DONA DAS PALAVRAS

ESSA DONA DAS PALAVRAS

Marília L. Paixão

Eu sou a folha do vento varrida sem nem ter podido beijar seus pés

Eu sou a folha ficando cada vez menos bela nas ruas do abandono

Sou sem dono, sem árvore, sem flores, sem beijos

Sem tronco, sem sombra, sem galhos

Eu sou a folha que perdeu a juventude correndo atrás da ventania

A ventania não me socorreu de nada

Pelo contrário de tão tonta no redemoinho perdi as cores

Perdi certo paladar pelo natural ar

E depois de vagar subir e descer calçadas

Depois de vangloriar-me nas montanhas sem medo

Depois de sem medo não ter onde vangloriar-me

Restou-me a suja poeira dos dias e o asfalto cinza

Não sei por que ainda não me rasgo

Não sei por que ainda me sobra espaço em páginas de poetas diurnos

Se é noite outra vez e a minha dona me acha linda

Essa dona das palavras que a nada explica

Nem minha existência folha

E nem sua existência linda

O belo deve morar onde seu olhar fita

Não em folhas de revistas.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 03/03/2009
Código do texto: T1467916
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