Ser Poeta ao Inverso
Pra ser poeta basta retratar o dia a dia
Ao fim da frase achar a rima
Compor uma simples obra prima
Passear entre o amor e a melancolia
Basta um aperto no peito
Uma dor que revolta
Um sorriso desfeito
Um caminho sem volta
Pra ser poeta basta duvidar do carinho
Desprover-se à inspiração da lua
Valorizar o lirismo que vem da rua
Esquecer a flor, descrever o espinho
Pra ser poeta nem precisa Academia
Necessário é, filtrar os olhos ao belo
Deixando de lado o azul pra reparar no amarelo
Crendo naquilo que a sua alma repudia
Pra ser poeta, talvez, nem precise do alfabeto
A vaidade do saber pouco importa
Ter sim o coração na boca e a alma morta
Errando o alvo com um tiro certo
Ser poeta é entender a contradição
Ir ao desencontro da maré
Ser erudito com Samba no pé
Seguir o destino à contramão
Ser poeta é ser corriqueiro
Deixar fluir em um segundo
As coisas mais simples do mundo
Expondo no papel um sentimento verdadeiro
Ser poeta é amar o infinito
Agradecer à Deus o sol que te ilumina
O brilho da lua, o pernilongo que azucrina
Seu sonho tão bonito
Ser poeta é ser porreta
Cabra macho, caboclo pé-no-chão, é
"Cartolar" a vida, "patativar" o Assaré
Ser poeta é ser boêmio
É não importar-se com dinheiro
Brindar a lua no terreiro
É, pois, seu único prêmio
Ser poeta não é mensurar o incomensurável
Nem contestar o incontestável
Tampouco enfeitar o discreto
Ser poeta não é amar o detestável
Nem aceitar o inaceitável
Tampouco acreditar no incorreto
Ser poeta é amar a vida
Expor-lhe, humilde, a ferida
Cicatrizá-la sem dor
Ser poeta é não querer ser poeta
Pra chorar na hora certa
Sufocando o rancor
Ser poeta, à vezes, é ser poeta
Sorver a poesia indigesta
Embriagar-se de amor