Flor do Espanto
Enquanto a flor do mundo se arrepia,
Eu, tão denso, mouro e cristalino,
Empenho meu espírito na coragem,
À margem do meu tosco descaminho.
À beira do meu tempo
Eclode em desamparo,
A mais secreta flor do desencanto;
Meu pranto se amedronta
E foge léguas
Enlouquecidamente dissoluto;
Um bruto diamante ri da rima
Escarra na poesia que me resta;
Palavras estancadas pelo medo
Se exprimem, anciosas, pela fresta,
Com provas tão cabais da minha culpa,
Num estranho dossiê que não condena,
Mas antes, me oferem a garupa
E explodem, num dilúvio de falenas.