AVENIDA PALESTINA
… Eu nunca havia visto chuva de granizo…
Ontem, enquanto caíam do céu pedras de gelo,
Eu regressei à minha infância:
O medo do desconhecido…
O encanto da natureza tão complexa…
A união de duas idéias desconexas.
Parece que vivi atrás do vidro da janela,
Através do qual eu podia ver a chuva.
Entretanto, embora tentasse, não podia tocá-la.
Um vidro transparente me separa
Da chuva de gentes que há lá fora.
E, ao invés do granizo que nunca vi, quando menina,
Vejo voando o granito das paredes da Palestina
E, com ele, as idéias e sorrisos de outras meninas indefesas,
Tão sutis, tão indeléveis, destruídas,
Destituídas do direito de tocar a chuva,
Destituídas do direito à beleza de crescer e ser mulher.
Quando eu fui menina,
Eu vi o gelo cair e achei lindo:
Quão limpas as ruas ficaram, depois da chuva!
Quando sou mulher,
Vejo o gelo cair e tenho medo de quanta dor
Vai haver depois da chuva,
Na Avenida Palestina do meu coração.
O granizo dissolve.
O granito não!