Toque da Alvorada
Sou do vento encrespando o tapete marulhado,
estou na gota solitária desmanchada sem pudor,
na voz que o vento sussurra, praias apalpando,
para mostrar que inexiste a falada dor de amor.
Sou aqui e todo lugar, seja esse rosto da chuva,
lenitivo elixir que tem ritmo e cheiro de selva,
sou o suor transpirando alegria em cada fôlego,
que derrama risonhas nuvens nos divinos lagos.
Sou luz de estrelas, dança do vento,cor do luar,
chão do céu buscando nos teus olhos um amanhã
de anseios nascido em brasas, com medo de amar,
à espera da quietude solitária e sua paz tamanha.
Sou sim a filha do vento que me rouba suspiros,
chorados de esperança e valsados em tantos giros,
afagando a silhueta das montanhas rubras de fogo,
sou sol raiando e morrendo, estabilidade e perigo!
Sou sereno lavando as fecundas searas trigueiras
e sou a peregrinação das águas fugitivas dos rios,
que jamais se cansa de arrastar suas primaveras,
espelhando luar de melodia por todos os exílios.
Não me pertenço, desabotôo-me dos firmamentos,
revisto a própria vida, sou da vida,sou pela vida,
em essência perene fragmentando encantamentos
causo deslumbramentos, sou o toque da alvorada!
Santos-SP-01/04/2006