A AREIA COMO LENÇOL
Vem-me nestas paragens
O perfume da minha terra,
Das flores e plantas selvagens
Que deixei na subida da serra.
Vem a saudade caprichosa
Com a força dum furacão,
Como um espinho de rosa
Cravar-se no meu coração.
De mim não tem pena.
Não sabe a dor que senti
Ao deixar minha terra morena,
E os sussurros que não mais ouvi
Do mar beijando a onda
Em segredo, à luz do luar,
Dos canteiros, traçados com arte,
Enfeitando a orla do mar.
Arrepia-me até os cabelos,
E me faz cada vez mais querer
Guardar com tantos zelos
As imagens, para eu não sofrer,
Do solo onde eu vivi
Dias felizes de muito sol,
E da cama onde eu dormi
Tendo a areia como lençol.
Vivo um momento naturalista
De nostalgia, cantada em versos,
Saudade da terra santista
Meu berço e de povos diversos.
26/03/06.