As passadas no salão
I
Ela girava a bailar
em todo o salão,
uma guria assanhada
que com sua saia rodada
fazia todos deslumbrar-se
em labaredas incendiosas.
Essa era sua nobre missão,
conduzir os olhares multiplos
para o meio do salão,
cada instante;
bailante,
ela cometia graves delitos.
Não era marginalizada
pois, aqueles olhares
impetuosos de homens
já exaustos...
buscavam nela um último
refúgio escravizado.
Verdadeiros afetos,
de tempestuosas torres
vadias a mercê;
com um assobio delicioso
ela se desventurava,
levava-se no peito o sorriso
fatigado de criança,
mas, em seus lábios
haviam a maior perspicácia
ao rir-se de gozo.
II
Em seus olhos carregava
uma aflita sensação
de morte ignóbil.
Semblante pesado,
castro de felicidade.
Na verdade;
ela não parecia ter medo,
da soberba morte.
Ousava consagrar-se
ao ligeiro castigo
que merecia receber;
Era sagrado seu momento,
sua partida deveria ser digna,
ou somente: decente.
Sem gritos terríveis
como revelação perversa
de seu bailar ultrajado
no meio do salão,
ela deleitava-se em restaurar
sua fraudulenta vingança
de todos os homens.
Homens estes, maquiados,
falsos dementes, estúpidos,
seres que desejavam seu arrepio.
Mas, que resignavam-se
no corpo
o desafeto morto,
que se fez muitas vezes
rolar em sua pálida face
lágrimas desgostosas
de um ódio impune.
III
Ela então,
deixou-se cair;
alí mesmo no meio do salão.
Os desventurados buscaram
socorrê-la em pressa
simultânea; simultânea...
mas, ela havia partido,
deixou-se ir à toa,
numa viagem absoluta,
intuito seu;
sempre quis fluir
a virginal pureza,
agora mais límpida,
deixou-nos sua nobreza bailante:
Insinuante
a girar no meio do salão,
tornou-se eterna e funesta guria.