Galho tenro
Sou
o vão do meio dia à meia noite,
entre mórbida ambição descabida
e barriga ferozmente desnutrida!
Vou
da chuva que esperava contente
à frustração da ausência presente,
numa continuidade intermitente!
A faixa noturna completada com a lua
faz-me sentir metade vazia, semi-nua,
porque meu amor só virá na negridão,
fatigado será meu sonho de insolação.
O que sou? Nada... ou tudo.
O que tenho, é tudo do mundo,
encostado no tempo cabeludo,
arrastando meu ânimo ferido.
Sou intervalo e pausa,
ensaio lento da brisa
que enrola e não avisa
ser mutante minha casa,
casa metamorfose de mim,
tece e me destece como capim,
ora subindo na verde aurora
em pujança rejuvenescente,
ora secando outono afora.
Sou ambigüidade sem finitude:
não tendo remate, serei reparada
e reflorescida em plena liberdade,
querendo ou não, sou mesmo nada.
Na noite sonhada sou o que quiser;
amanhece, sou o que Deus me fizer,
missão de paixão ou contemplação,
predisposição a seguir nova estação.
Nem início nem término
eu sou, e com convicção,
sou galho tenro mediano,
sóis múltiplos me habitam,
diurnos e noturnos, sou humano,
a todo tempo eles me encantam!
Santos-SP-10/03/2006