Coisa demais para pobres mortais

Quanto tempo assei minha mente na dor

e o fogo do remorso não deixa mais a paz ficar comigo.

As cartas que escrevi, perdi a conta de quantas foram,

e as respostas que obtive nunca me disseram nada e nem deram a fuga que eu tanto ansiava.

Eu queria ver tudo tão distante de mim, não queria sentir mais tudo aquilo que cheguei a sentir.

Eu vejo sempre no silêncio, o medo escondido de tudo, sinto-me desiludido com a vida e com a forma de vivê-la.

Eu perco tempo tentando encontrar uma negação a tudo que os outros pensam ser certo e rumino meus erros velejando em meio a tantas dúvidas.

Queria sentir que sou real,

medir a mediocridade das pessoas,

sentir quando os outros me tratam com animosidade,

mas na verdade não os sinto,

só sinto pena de todos e principalmente de mim.

Sou aquele pobre desengonçado, o faminto favelado, como posso então negar que meu pão é ganho com o dinheiro?

Estou aqui e ali, aonde quiser,

sinto tudo e nego para mim que sentimentos tenho,

invento assim mais de um caminho para minha estrada.

Confuso demais,

louco medo de ser louco,

perder a razão em busca dela.

Por tempo demais me perdi em detalhes tais,

que o meu cerebro adoeceu e eu,

chorei quando notei que iria partir sem deixar nada em minha vida tola.

Até parece que eu usei o pouco de louco que todos temos e não consegui voltar a realidade.

Quantas vezes me peguei doente

na febre veemente de querer saber,

e a dor do conhecimento de repente

me tomou como se fosse doença sem cura.

Tropeço em meus próprios passos,

passos que tanto ensaio,

e na hora do caminhar eu não sei começar.

Tanto desejo de ser objeto de alguma coisa,

tantos sonhos em meio a entremeios

e a dura realidade me incomoda de tal maneira,

sobremaneira

que chega como se fosse a milenar loucura atrás de poder.

Mas de um modo ou outro a gente sempre corre atrás do poder,

de um jeito ou outro nós sempre o procuramos

mas também é certo que nem sempre o encontramos.

Escrevi no tempo o meu tempo, ferido com os acontecimentos e perdi minha história real em torno das falas que inventei e assim me deparei causando o mal de muitos a quem queria bem.

Eu pensei saber

mas o destino me provou que de nada sabia quando dizia que sabia o que fazia.

Parece que a milênios já errei e voltei tentando me encontrar,

tentando reparar o que foi causado, mas não encontrei o começo para poder chegar ao fim,

entretanto, tanto quis ser o que fui,

que vi nos olhos de todos,

o pensamento que falava mais alto que as palavras,

senti no mais leve roçar das mãos o desejo de ver realizadas suas orações.

Desci do meu véu de incertezas,

cobri as cabeça e me despi de tudo que aprendi a ser, encolhi num canto dentro de mim,

o medo de ser real os meus sonhos,

escondi-os como se fossem coisa demais para pobres mortais.