Beleza Perdida
"A ignorância é vizinha da maldade", mas a sordidez é alheia
aos bons corações, que a rosa de Hiroshima não prolifere
em nosso jardim, nem contamine com sua radioatividade
a relva do campo e que a mão amiga não seja a mesma
que apredeje.
Na verdade vivemos numa selva de pedra,
num capitalismo selvagem e devorador, herança amarga desses
séculos industriais.
Talvez eu seja um iludido procurando rosas em meio
a fezes, um romântico falído cultivando platônicos sonhos
num mundo caótico, mas é porque recuso-me a celebrar a estupidez
humana, prefiro ao invés disso exaltar a simplicidade das coisas
singelas.
Não quero alimentar ódio no coração para que depois não morra do meu próprio veneno.
As vezes me sinto apenas um insignificante
grão de areia, mas sei que no fundo nem tudo está perdido,
pois as flores ainda desabrocham nas rachaduras do asfalto
como um grito de protesto da vida no meio da poluição.
"Um dia nos disseram que as nuvens não eram de algodão...",
"nos deram espelhos e vimos um mundo doente..",
mas não nos deram a cura desse mal,
apenas ficaram os poetas semeando com palavras
a beleza perdida no meio do esterco.