SAGA
à Manoel de Barros
Tenho gana de voar
pensamentos,
desaprender de pisar o chão.
Criar asas de avoante,
atingir nuvens de molde
a atropelos.
No rosto pressentir mistrais,
minuanos
que daqui desvejo.
Extasiar de cor
o arco-íris das primeiras águas;
romper o horizonte
feito nariz de avião.
Poetar à lua nova
alguns versos luminares;
enrubescer estrelas
com meu brilho néon.
Prever o nascimento da súbita
aurora
e vencer a luz do sol
em corridas matinares.
Se a vida pasmar,
redemoinho de novo:
duma brisa pequena
faço acontecer furacão.