CICATRIZES
Aquele céu azul e límpido, onde voam gaivotas e esperanças;
Ainda guarda as lembranças do horizonte, onde rasgaram-se trovões;
As nuvens brancas de algodões, que inspiram sonhadores e crianças;
Também já foram tempestade, choveram raios e rajadas de aflições!
Aqui se dá semelhante fenômeno: da cura que se abraça à doença;
Nas asas da sentença, um juízo inútil que absolve na condenação;
Coração que sangra, onde só restaram vestígios da invisível presença;
Onde a dúvida da crença revela-se no consentimento do não!
Eu posso andar com essas pernas amputadas e mastigar sem dentes;
Sentir-me amado nesses mares indiferentes, leve no que carrego;
Posso vencer quando me entrego, colher as derradeiras sementes;
Pois minha verdade mente, quando me induz a fingir que sou cego!
Sigo inventando imagens, construindo ruínas;
Tornando em brancas parafinas, paisagens do meu sorriso amarelado;
Gritando calado, garimpando flores amassadas nas minhas minas;
Perdendo-me em minhas esquinas, te achando em meu presente passado!!