CICATRIZES

Aquele céu azul e límpido, onde voam gaivotas e esperanças;

Ainda guarda as lembranças do horizonte, onde rasgaram-se trovões;

As nuvens brancas de algodões, que inspiram sonhadores e crianças;

Também já foram tempestade, choveram raios e rajadas de aflições!

Aqui se dá semelhante fenômeno: da cura que se abraça à doença;

Nas asas da sentença, um juízo inútil que absolve na condenação;

Coração que sangra, onde só restaram vestígios da invisível presença;

Onde a dúvida da crença revela-se no consentimento do não!

Eu posso andar com essas pernas amputadas e mastigar sem dentes;

Sentir-me amado nesses mares indiferentes, leve no que carrego;

Posso vencer quando me entrego, colher as derradeiras sementes;

Pois minha verdade mente, quando me induz a fingir que sou cego!

Sigo inventando imagens, construindo ruínas;

Tornando em brancas parafinas, paisagens do meu sorriso amarelado;

Gritando calado, garimpando flores amassadas nas minhas minas;

Perdendo-me em minhas esquinas, te achando em meu presente passado!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 19/06/2008
Reeditado em 16/09/2009
Código do texto: T1041200
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