Escárnio Divino

Foi num fim de tarde em que o mundo todo se viu por um segundo apenas.

E os olhos correram os céus

E a puta o padre o pastor a madre e o ateu

Viram-se frente a frente com seu eu-segredo,

Com o que duvidaram lutaram ou quisera negar.

A paz impôs-se de maneira trágica.

Não houve tempo de recorrer analisar e sanar erros.

O amor nasceu de um breve escárnio divino.

Escalpelados então, viram a montanha elevada

De suas míseras vontades narcisistas escorrerem por entre os dedos,

Como grãos da areia da praia

Ou a água barrenta do amazonas...

E foi neste cenário misto

De decadência elegância descrenças e verdades absolutas efêmeras

Caídas - muros de Berlim ao chão,

Que o padre viu seu Deus transformar-se em Ganeshs e Orixás

Tão divinos e reluzentes e reais e presentes onipotentes e oniscientes...

Que a puta viu-se pura,

(Mais pura que qualquer virgem já fora ou pensara ser)

Que o pastor viu e pode comprovar a veracidade e a vida,

(Tocando os pés e sentindo o calor divino)

De todas as imagens quebradas e chutadas no decorrer do caminho

Rumo ao que chamara de “a volta do senhor”...

E o ateu creu como o mais crente dos crentes!

E o mundo fez justo então

Pelo avesso e aversão da diferença vaga

Entre os mundos sociais e religiosos...

E a tarde caiu como uma folha no outono

Dançando no ar como as notas que escorrem da flauta de ensaio de Dorivan Lages...

E a noite subiu como um balão de são joão

Tocando um ar de glórias mil e almas sãs... Finalmente.