SOLIDÃO DE ÍNDIO

O sol já vem vindo,

Vai passar, passar...

E ninguém sabe para onde vai.

Já não dá mais

Para ver quando se esconde

Atrás da colina.

Mas é bom saber que volta,

Pelo menos ele volta...

Hoje planto milho, feijão, soja,

Uma porção de coisas...

Já não me sobra tempo,

Para admirar o córrego,

Onde aprendi a nadar.

Hoje a tribo é produtiva,

Como o branco quer,

Mas, minha alma nem se acredita mais...

Às vezes conversamos

Na língua da gente...

Mas, a língua do branco,

Já quase que é da gente.

Os novos nem sabem como índio fala!

O branco acho eu,

No fundo é bom.

Deu-nos terra.

Deu para gente,

Coisa que já era nossa...

Negócio de branco...

Não dá para o índio entender...

O que um índio velho pode fazer,

Quando vê seus espíritos sagrados

Sem significado?

Quando vê um índio pequeno ainda,

Trocando seus enfeites divinos,

Por pedaços de papel,

Que o branco valoriza tanto?

Quando vê gente nossa

Com vergonha de andar nua?

Eu só fico olhando,

Mas, me dá muita tristeza,

Muita mesmo...

Eu falo isso só para mim,

O branco não acredita muito

Que índio fique triste,

Quanto mais índio velho...

Tem noites que não acredito,

Que o sol volte novamente.

Felizmente, ele sempre volta,

Pelo menos ele não nos abandonou!