Olhar sombrio de dores escondidas,
lágrimas borradas a marcar-me o rosto,
hipnotizo incautos que me subestimam,
respeito a morte que a vida valoriza.
Pincel em breu a tingir-me as vestes,
faço-me bela, mágica e poderosa.
Lábios em negro, eu seduzo a noite.
Em brilhos e cetins, faço minhas preces.
Meu céu é ébano sem nenhuma estrela.
Na lua banho-me em sais de orvalho.
Por lúgubres jardins, deslizo sem medo,
extraindo forças da minha tristeza.
Sou a coragem que enfrenta as sombras.
Uivos distantes me embalam o sono.
Sou névoa densa a embaçar caminhos.
Espectro a vagar entre os escombros.
Este açoitar do espírito me faz despótica
ao meu próprio ser em fortes chibatadas.
Na contramão da nivea luz que irradio,
em brumas descerro minha alma gótica.
19/05/2008
Rev.05/02/2017
GÓTICA