Por que?

Também pergunto, Tagore, que força é essa

que nos faz insistir no desatino de existir?

O que representamos, Heráclito, no teu Devir?

Que importância temos?

Por que sermos?

Quem nos estendeu o Véu de Maya

e nos adestrou a não sair da raia?

O homem grisalho ajeita o terno.

Em breve fará uma exposição de objetivos.

Outros o ouvirão fingindo interesse naqueles motivos.

Alguém cobiça a mulher plena, ao lado.

Imagina-se um simpático celerado.

E todos continuarão a trágica pantomima.

Por que?

Que interesse haverá no terno do homem grisalho?

E na vazia plenitude da mulher ao lado?

E naquele que se quer um maníaco celerado?

O grisalho homem dirá que a meta foi cumprida,

a mulher do lado, que se sentiu querida

e o celerado lamenta a sua rápida partida.

Repetimos ao Infinito o mesmo de sempre.

O sempre ao Infinito.

E nos resta a angústia de a cada dia

buscar um novo fingimento

que nos iluda que temos importância.

Angústia do Homem: saber-se dispensável!

Para alguns resta o previsível grito,

ou o tradicional rito:

é a roda da Samsara,

a religião do filho de Sara

ou alguma outra mitologia canalha.

(para os lúcidos, o fio da navalha).

Crias do Homem aprendem a respirar sob a Mortalha.

Cursos e colégios. Escolas e cursos.

E o que se lhes ensinam?

Que tracem metas e que cumpram objetivos.

E, se possível, que façam outros seres vivos.

Pastoream-se rebanhos humanos.

Mentem-nos que temos propósitos e um destino.

Quais seriam?

Serem homens grisalhos de terno ajustado,

ou mulheres plenas e resolvidas

ou quem as cobiça em busca de uma lambida?

A isso chamam de vida.

Somos bem amestrados,

sequer olhamos para os lados.

Perseguimos a cenoura adiante

e agradecemos por estar sempre distante.

Acostumamo-nos com o chicote no lombo,

com o buraco e o tombo

e rimos desse tolo ditirambo.

Seguimos a estrada que nos foi destinada.

Melhor nem saber.

A isto se chama viver.

Por que?