MAIAKÓVSKI

Que o negror dos meus olhos

Não vejam nunca

A imensidão do abismo

Em meu ser irreconhecível.

Ouço vozes que se movem

Como arautos da tempestade.

Melhor se eu fosse como os porcos

Com suas bêbadas visagens

Que ficar num porto árido

De navios incompreensíveis.

No hálito negro da noite

Os sonhos impossíveis.

Gasto meu tempo

Como um sapato gasto,

Por dentro batem-me as solas

E assolam-me os passos em mim.

Noite sem fim,manhã descalça,

Procuro minha sombra no muro.

Devagar a divagar

Lentamente entre a mente e o real,

Como um cão no deserto

Morto de sede e fome,

Só o instinto me guia.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 18/05/2008
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