PARTO COM DOR
Buraco de fim de mundo,
cratera do cu do inferno
matéria infecta e nefasta
vertendo de tantas bocas
malditas sementes raquíticas
tenebrosas esquálidas faces
tereis por acaso parido
em dias negros e aziagos
esta pestilenta e infecta
existência de cadela corrida?
que se compraz a lamber
as prórprias feridas e a
maldizer da sorte e dos ventos
que não tem boca nem olhos,
somente arremedos de
qualquer sentido
e que se encolhe de frio
e de medo?
que proclama em versos uma
mentira projetada no espelho,
a mentira de si mesma, em
prosa e verso, ah, seus versos,
um terreno escorregadio,
trejeitos de alma torta,
preces falsas a deuses
de fundo falso...
ah seus versos, sua cara
borrada em águas turvas.
Eu quero a nudez dos
palavrões
sentidos exatos nenhum
eufemismo,
nem chanas, nem conas,
nem lírios, nem círios,
são velas, panelas, remelas
e todos os raios que partam
sem piedade nem dó
essa vida bandida , estou só...
e o buraco do fim do mundo
é ainda mais embaixo
rasteja o fundo do inferno
se refestela na merda,
me deixem partir, ah, quem
me segura, ainda, quem?