QUEM ROUBOU MINHA INFÂNCIA?

Guardo na memória um tempo

Em que se ouviam risos nos quintais

A bola quicava, bicicletas voavam pelas descidas...

Uni, dune, tê, e os sorvetes eram colorês mesmo

Pipoca, algodão doce, dadinhos e jujubas...

Hoje, olho da janela a rua cinza e vazia.

Nem bolas, nem crianças...

No olhar da criança do Iraque,

Destroços de guerra.

No olhar da criança do Irã,

Armas e fuzis.

No olhar da criança americana,

Um colega empunhado arma.

No olhar da criança africana,

Fome, doença e miséria.

O olhar da criança da China

Não se abriu, abortado...

E aqui, o que se vê?

No olhar da criança do Brasil:

Nossos filhos, sobrinhos, netos...

Grades... Janelas...

Quem roubou a infância deles ?

Mas ainda pior...

Há quem roube mais que isso...

Doentes da alma:

Tiram a pureza de umas,

Prostituem outras,

Espancam,

Agridem,

Omitem,

Esquecem...

Há um misto de dor em mágoa

Em minha alma

Que assiste

Estupefata

O noticiário...

Quem roubou a tua infância, Isabela?

Pior que o medo, o bandido, o demente:

Tua infância roubada por quem devia proteger!

Tua vida atirada da janela,

De um modo tolo e vil,

Sem explicação plausível...

Um anjo que chora no céu agora

Ante o apocalipse absurdo

Das relações humanas...

Que não seja apenas mais um caso

Que a revolta não seja de momento

Possamos um átimo de sabedoria

E buscar, em verdade,

A mudança estrutural das coisas

Volver o olhar ao Criador

Mas nossos passos mudar

Reconstruindo o caminho

Devolvendo a infância

Que nós mesmos temos roubado.