UM QUADRO (PARA ALÉM DOS SÉCULOS)

restam livros amargurados
tua única abundância
ofensas antigas encobrem teu rosto
glaucoma véu taciturno
farol apagado
fuzilando teus olhos
cansaço
lento
leve
movimenta a cadeira antiga
preparam-te
- é tão decadente o teu país -
tua voz inédita espelhada entre quatro paredes
o silêncio empurra o escuro
o mundo todo dentro de ti
na casa que não é tua morrerás
amanhã
de
manhã
te
encontrarão
depois
olhar distante para sempre perdido
para além dos séculos
quando acordares já terão dissipado tua riqueza
- é tão decadente o teu país -
mas que ferida indignada
espada interceptando luz
recortações em pó
feitas de fel


Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 14/01/2006
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