TROVAS DA TERRA

Lavei um dia no Douro

Os lençóis de linho e rendas

Onde dorme o meu amor

Entre beijos e oferendas.

Mas o rio fez-se ciúme

Ao perceber o feitiço

Que restava em vestígios

De tão doce compromisso...

Mirou-me e molhou o olhar

Com lágrimas de pura dor,

Beijou-me as mãos e rogou-me

Para ser só seu amor.

Eu ri de tal pretensão,

Afaguei-lhe a inquietude,

Mas fui secar meu lençol

Pra longe do seu açude.

Ele, rio d' amores e mágoas,

Fez-se em ouro, sol e céu

E, em oblação singular,

Converteu-se em colar meu!

(Romance triangular - Homem, Terra, Rio...)