PESADELOS TRANSPARENTES

1.


Não, nada vibrará neste papel, mas tenho certeza que arrepios transpassarão por uma ou outra espinha (seja de asco, indiferença ou desprazer); tenho uma câmera na mente e vejo uma boca se contorcer de raiva e no fim desta fala, amargando junto as linhas...
Como você poderá ver nasci novamente, bruxa, não tendo receio das trocas de peles de cobra, acaricio pêlos dos lobos da mesma forma que troco idéias com anjos... (alguém poderá se perguntar, como?) Intermediando portais.
Há de se ter cuidado e respeito pelo negro das sombras. Não, não piso em carcaças e nem xingo o odor da lama que gruda em minhas solas, no umbral, mas às vezes me derreto de
pena ao sentir o odor de cabelos queimados de tantas como Ruth, suas cabeças permanecem enrondilhadas nas árvores e seus pés enraizados no passado; debatendo-se automaticamente contra o muro do tempo, onde vereditos eram apontados por nobres inquisidores. Por vezes vi o pavor exposto nas faces de outras mulheres que os reverendos desejavam e não podiam ter...  Sarah, era uma delas preferiu o caminho do abismo do que se entregar a dois deles, cometeu o suicídio, com veneno. O mais sórdido clérigo tinha uma pinta no rosto o nariz aquilino e um o humor de pássaro
engaiolado, a disputava com 
um outro que trazia a seu redor uma 
atmosfera das mais frias entre os torturadores, andava sempre com o peito estufado e o nariz empinado e dividia seu "mel" com uma amante invejosa (apesar de lhe satisfazer os desejos

esta não conseguia tê-lo de forma absoluta) pois seus olhos queimavam por Sarah.
Ruth, era seu nome, esta tremia... de raiva ao ver a rival, e o gozo da aldeã era entregar as irmãs de Sarah, as bruxas mais novas da região, a longos inquéritos... estas nunca lhe tiveram respeito, e apelidaram-na de dama de aço, pois seu olhar de satisfação era sádico ao vê-las se consumir na fogueira.
Já na época, da minha visão 
desprendiam-se vômitos, sinto nauseas hoje ao reconhecê-la em um novo corpo sei que esta finge prazer (nunca tendo o privilégio de orgasmos múltiplos... ao menos nesta existência). Não por praga, mas pela própria consciência que lhe atazana todas as noites.


2.

por que cães avançam
estralhaçando ossos nos campos santos?
o que se pode fazer em um hospital
além de se esperar que se amenize a dor...?
(se ele tivesse um instrumento o que faria?)
vendo um médico “do além”  em má condição
tremendo com um bisturi na mão
a única saída é sair correndo...
aha! sem assepsia e sem anestesia
extirpam-se tumores?
quem não cuida da compulsão a bebedeira
que amparo traria à alguém!?! 

3.

cada furna em que se adentra
ensina
como se tiram os pés da lama...
não se observou nenhuma pena aqui
em cima da mesa. A chave está bem ali

cada mente que mente
 diante do que é (do) justo
chuta as muletas da memória,
enzimas deslumbradas
se desequilibram... no passado
por isso falham,
olhos da cor da escarlatina
sentem inveja do verde
quando as espigas douram ao sol

sombras sempre desaparecem
ao se desligar a Luz do mal.


Rosangela_Aliberti
São Paulo, 13.V.08
Foto: ©Martin Langer 
Greenpeace


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audio: Leaves Eyes-Norwegian Lovesong
http://br.youtube.com/watch?v=Xh4Is8xiWOw

Foto: ©Martin Langer / Greenpeace

Rosangela Aliberti
Enviado por Rosangela Aliberti em 13/05/2008
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T987188
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