DISCURSO DO ABSURDO
DISCURSO DO ABSURDO
Nessa hora absurda ao meu corpo, me preparo para dormir.
Existe um silêncio profundo moldando as noites do interior.
Vejo apenas os insetos sorrateiros passeando pela cozinha.
Aonde vão e o que tanto procuram ?
Passeam tranqüilos, longe dos perigos dos pés distraídos.
Revisto a casa, não encontro notícias ...
Nenhum amigo escreve uma carta contando as notícias, não sei quem casou,
Quem perdeu ou morreu, não sei quem ganhou - para rever os amigos só mesmo em feriados prolongados na cidade natal.
Chegam-me apenas boletos, avisos de contas, a vida é cobrada nos mínimos detalhes.
Nessa hora absurda, por tudo absurdo, não posso sorrir.
Acordaria as crianças e talvez a mulher.
As formigas desenham um traço interminável na parede, penso em matá-las – uma a uma.
Ocupar-me dessa tarefa me custaria essa noite e muitas outras, romperia o silêncio da noite com o açoite da morte – a morte as formigas.
Discurso absurdo, mais absurdo que essa hora que meu corpo reclama.
Amanhã milhões de papéis me esperam sobre minha mesa e outros virão no decorrer do dia. Débitos e créditos, cálculos intermináveis e vários e-mail’s que não me acrescentarão nada.
O mundo é moderno e os homens são tristes - e as mulheres também.
O dia já não é tranqüilo no interior, nem no meu e nem no da cidade que me acolheu.
Donizetti Reis
CRClaro – 11.04.2002