Numa noite de sexta
Sexta-feira, começo de noite.
Tormento,
um novo lamento me escapa.
Solitário de novo,
me encontro na ponta do mapa.
Distante de tí,
distante de mim.
Ainda creio que os solitários se descobrem
nas noites de sexta.
Quando tudo acontece no mundo
me encolho no fundo
do meu próprio ser.
Andando de um lado a outro, as portas fechadas,
e se eu as abrisse?
Nada.
Cada passo, contado
na sala fechada,
fera acuada, enjaulada.
Ah, sexta-feira,
que angústias me trazes
e então faço as pazes com minha solidão.
Me pergunto, então:
O que fiz com o meu coração?
Até procurei um culpado,
para sentir-me vingado, não deu...
O culpado encontrado,
era eu.
As palavras que escrevo
dizem o que não me atrevo
a falar para mim.
Então fico assim,
solitário, aturdido,
escrevendo, perdido,
numa noite de sexta.