Tudo aos pares... (Variações sobre um mesmo tema).
Quando deito, em meu leito
Cansada, fecho os olhos...
Doridas divagações...
Depois de um dia, outro dia...
Depois de uma noite, outra noite!...
O sol brilha de novo...
E logo a lua surge no céu,
Pálida e fria...
Há sempre novas madrugadas...
E sempre surge, belo e triste, o anoitecer...
As flores desabrocham, nos encantam
Mas se despetalam depois...
Outras vêm, mui frescas, donairosas,
E se vão... De outros “dois”
Faz-se o enxerto das rosas...
Mas também não duram, pois...
Eu sou apenas “singular,”
Decerto não nasci pra ser “plural...”
Vim e “passo pela vida...”
Sim, o Amor eu fui buscar,
Mas fiquei tão machucada
Que já nem posso chorar...
Já fui demais humilhada
Que já nem posso cantar...
Quando deito, em meu leito
Cansada, fecho meus olhos...
Doridas divagações...
Depois de um dia, outro dia...
Depois de uma noite, outra noite!...
Depois de um sonho, outro sonho...
Lembranças... murmurações
De passados tão distantes...
Mais uma noite, outra noite!...
Depois sol brilha de novo...
Mas o crepúsculo-açoite
O espreita, e num renovo
Restaura uma outra noite...
E logo, a lua surge,
No céu, pálida e fria...
A minh’alma se insurge
A tanta melancolia!...
Sou só?...
- Será isto verdade?...
Sou só:
- Mas eu sou feliz.
Na minha infelicidade
Há sempre uma Voz que diz:
– “Foste oferta! Foste Amor!
Doação e aceitação!
‘Só’, é quem causa a dor!
Pra este não há perdão!
O remorso é companheiro
Que não queiras pra ti, não!
Teu amor é verdadeiro!
Nele não há solidão!...”
A partir deste momento
Eu não sofri por ser só!
Apenas por ti lamento...
– Tu é que me causas dó...
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