Adeus cilindro nicotinoso.
A voz falha
Na hora de falar
Um pigarro atrapalha
Limpo a garganta
Com um ruído
Horrível
Todos me olham
Tento disfarçar
Tento continuar
E assim vou
De pigarro
Em pigarro
Falando
E cá dentro
Com os meus botões
Penso
Até quando
Vou viver preso
A este cilindro nicotinoso
Sou um homem
Ou um rato
Quem sou eu
Mas o poder
Do vício é tanto
Que não consigo
Largar dele
Estou preso a ele
Sei o mal que faz
E mesmo assim
Continuo a fumar
Sou um perneta
Precisando
Dessa muleta
Sou um cego
Apoiado
Na bengala
Sou um demente
Queimando dinheiro
Em belas formas cilíndricas
Embalados em caixas
Com retratos de cancerosos
Esqueléticos
E com dizeres
Os mais escabrosos
Ou eu paro
Com o cigarro
Ou ele para
Comigo
E assim falando
Faço uma pausa
Para pensar
E acendo mais um
Só mais um cigarrinho
Depois deste eu paro
Olho a fumaça
Subindo em aspirais
E é lindo o desenho
Que traça no ar
Parece um cobra
Dando um bote
Faço um anel simbólico
Com a fumaça
Apago o cigarro
Olho para o maço
Levanto e vou tomar um café
Volto olho o maço
E digo adeus
Foi bom
Enquanto me davas prazer
Agora queres me fazer mal
Vou sentir a tua falta
Mas, não volto.
Contigo não quero mais nada
Adeus
ABittar