SOLIDÃO... (Após ler "Solidão" de Francisco Buarque)

O ônibus me levava... (– Ou me trazia?...)

Paisagens conhecidas... (– Tão estranhas...)

Lembraram-me o que sou. (– Ou fui, um dia?...)

No monótono balanço do asfalto

Eu procurei os sonhos que deixei... (– Será que os tive?...)

Vivi... Vivera... (– Ou a Vida “me viveu”?...)

Quem fui?... Quem sou?... Sou "eu"?...

– Certamente não fui o que queria.

– Eu venho... ou vou?...

Não há passado: há um presente fugidio

Que se esvai entre meus dedos: Água?... Areia?...

Quanto mais eu os quero segurar

Mais por eles minha lágrima os pranteia...

O que virá, se eu nem mesmo fui?...

O que eu sou, se eu não fui, um dia?...

Sei que alguém me espera, muito longe,

Mas assume uma postura arredia...

O balanço do ônibus no asfalto...

As paisagens já adormecidas...

Os estranhos rostos que acompanham

A tragédia que sinto neste dia...

São de verdade?...

Ou é fugidia

A ilusão de fazer-me em companhia?...

Um pouco estou... e tanto eu já fui!...

Teu rosto vem e vai, como um fantasma

(– o rosto que eu amei e quis, um dia...)

O ônibus me levava...

ou me trazia?...

Em tudo... perdeu-se a magia...

Eu quero sonhar! Quero ainda “me ver”,

Quero me achar na comédia ou na tragédia

Que representei-vivi... um dia...

Hoje (–Hoje?...)

onde está o meu rosto?

– Está em tuas mãos... que estão vazias...

Sou eu, aquela que sonhou um dia,

E viu estrelas onde eram lamparinas...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 07/05/2008
Reeditado em 07/05/2008
Código do texto: T979397
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