Rua das amoras
O vento rola a noite cheia de corpos,
cheia de mãos bordando sonhos.
E não há mais angústias de insetos sobre teias,
não há flores campeiras desnudando-se ao vento,
só há uma brisa fugitiva
e o rio serpenteando entre pedras.
Ah, como era tempo de campos abertos outrora!
De pássaros a cantarolar nas árvores,
de ruas empoeiradas estendidas sobre pedras, sobre vertentes,
de chuvas tecendo sons nas fruteiras.
O vento encorpado de estações,
de dias se alimentando de tempos,
insiste em me lembrar:
das cachoeiras altas,
das amoreiras rochas,
dos lagos encrespados de borboletas.
A cigarra cerra o silêncio,
então sei que é tempo de saudade.