Ressaudades

Semi-desperto,

na ressaca de uma saudade

malcurada,

pressenti teu vulto e temi,

prejulguei teu gênio e gemi.

Amargo, pelo gosto ausente

dos beijos teus

evitei olhares e odores

para não ver a ameaça

de não tê-los,

a não ser nas dores.

Omiti gestos, palavras,

no intento de calar a voz

— ainda rouca de chorar —

e o corpo, trêmulo

de tanto soluçar.

Premeditei passos de fuga,

por tortuosas ilações,

levitei por divagações

—erráticas nuvens do pensar,

a fugir do vento interior.

A fugir de ti!

Mas, qual torvelinho estelar

que nem a mais sutil e fugaz

energia deixa escapar,

tu me roubaste

à sensação total da realidade.

Absorto, abduzido, absorvido,

vi ao redor

um mundo alheio,

frio, fastidioso e feio,

do qual só quis fugir.

Aninhar-me em teus seios,

cobrir-me com tua aura...

voltar ao sonho, sem receios,

ao sono que a alma restaura.

Voltar a ti e dormir.

Morto de saudades.