E o Sino Bateu
E o Sino Bateu
Ainda batem alguns poucos sinos
em algumas poucas cidades,
em quase nenhuma Igreja...
Nem eu nem mais ninguém os ouve
e percebem a sua mensagem original.
De repente, outro dia,
num mesmo dia,
num domingo de Páscoa,
o sino bateu e eu ouvi e senti o seu som,
o seu chamamento penetrando nos ângulos retos
das estruturas de concreto da cidade que não
cultivava mais os sagrados mistérios,
apenas as rotinas frias do viver sem sentido,
do lutar por um futuro indefinido, com muito ruído...
O som do sino consegue possuir meu ser
com uma intensidade impensável...
Por instantes, em intervalos distintos o suficiente para me fazer criança outra vez, entrei nas Igrejas, que tocavam sinos, envolvido pela magia da oração, que consola e rezei.
Na ultima encontrei o Fernando, sentado no fundo,
quieto, escondido atrás dos seus óculos pequenos,
confortável no seu terno justo,
esperando seus poucos amigos para, juntos,
repetir uma vez mais o seu nostálgico lamento,
refrão e lamuria poética de todos os que amam
o som do sino e o seu permanente convite à oração:
“ A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto”
(Publicado in Gerúndio, Maneco Editora, 2007)