Lirismo às seis da manhã.

Há lirismo demais

Numa ruga nascente no canto da boca.

Imperatriz de lembranças

da infância ao casamento.

Há lirismo demais

no pneu nascente na cintura.

Lua da felicidade

de jantares a dois

e barras de doces em lágrimas.

Há lirismo demais

No despontar do fio branco e grosso.

Estrela de maturidade

de uma carreira

estraçalhada pela pseudo-burguesia

norte-americana.

Há lirismo exagerado

Nos opacos dentes amarelados.

Curinga das noites mal dormidas

encharcadas de café e coca-cola.

Há lirismo elevado ao cúmulo

Na angústia instintiva reprodutora.

O Mundo de propagandas de cervejas

Com mulheres semi-nuas a serem consumidas

(Inveja!) - que me levam a gastar

TRês mil reais em plásticas!

O consumo consome meu corpo

feito de consumo a vida toda

Vivendo do sumo do superficial

Perecendo com sumo do falso.

Há poesia demais no ato

de consumir neurônios

(gastos pelo ar sujo)

ao tentar me concentrar

na filosofia de duas abelhas perdidas

em meio a braços no Ônibus,

motores de carros velhos às seis da manhã

Tum-tá de celulares invasores

E catracas se movendo.