Suicídio diário

Há sempre uma conversa desnecessária

Aos domingos

Há sempre uma desconfiança

Por aquilo que não fiz

Há sempre um purgo por que pago

Por um pecado emprestado

Há sempre um jeito próprio de ocultar

Os erros alheios

Há sempre uma dor de morte

Nos meus ombros cansados

Há sempre uma alegria

Por estar viva e infeliz

Há sempre uma ausência presente

Na lembrança do sadismo

Há sempre uma volta

Para o que não desejo

Há sempre um quê de tristeza

No meu sorriso plástico

Há sempre uma mágoa

Dentro da resposta rápida

Há sempre uma dor dormente

Nos meus órgãos dos sentidos

Há sempre o que passou

Perturbando-me o presente

Sempre o que eu não gosto

É o que me força a repetir

Há sempre uma conversa amarga

Com meu mais doce fantasma

Há sempre um desdém

No elogio dos meus versos

Há sempre uma indiferença

Num olhar apaixonado

Há sempre uma culpa

No meu peito inocente

E sempre uma vontade de ser culpada

No diálogo á distância

Há sempre uma vontade de ser louca

Quando eu mais tenho razão

Há sempre um ar de posse

No meu jeito de deixar livre

Há sempre um destrato esguio

No meu trato tão pomposo

Há sempre uma vontade de errar

No meu ensaio de acerto

Há sempre uma lembrança ardendo

Naquilo que mais quero esquecer

E há sempre dentro de mim

O que sempre estará fora do meu sempre!

Lívia Noronha.

Belém, 30 de setembro de 2007.

Lívia Noronha
Enviado por Lívia Noronha em 03/05/2008
Código do texto: T973273
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