CADA COISA NO SEU LUGAR.
Chamaram um cego
Pra ser juiz
De concurso de beleza.
Um surdo
Como crítico musical.
Um mudo
Para discursar em voz alta.
Um perdulário
Para administrar as finanças.
Um estelionatário
Para expedir os bilhetes
E cuidar da bilheteria.
Chamaram um cara centrado
Burocraticamente sensato
Para declamar poemas.
Um outro não menos sensato
Para escrever os versos.
Se cada pessoa estivesse
No seu devido lugar
Segundo as suas habilidades
Talvez houvesse um jeito
De as coisas melhorar.
O cego ouvindo música.
O mudo julgando a beleza.
O surdo escrevendo os poemas.
O perdulário lendo poesia.
O estelionatário cuidando
Da "bilheteria" no presídio.
Um presidente eleito pelo mérito
E não por discurso em comício.
O poema ficaria a cargo do poeta.
Declamaria os seus versos
Um ator de talento.
Não haveria lamento
Com as coisas nos seus devidos lugares.