NECESSIDADE DO MILAGRE
Quatro décadas/Após a gênese/ Senhora da cosmogonia de meus passos/
Ainda vejo escuro/o palmo/ A frente de meu passo.
Ainda não consigo/responder a questão/sobre quem sou.
O que Sartre sabe de mim que eu não sei?/" O homem somente entende a sí
mesmo de maneira prática"/ O pensar-se e sua síntese/ esfarelam-se sob
a textura do real/Quem sou afinal?.
Tenho certeza que nada parecido com Fillias Fogg/ou Espartacus/Quem
sabe D. Quixote/ a combater moinhos de vento?.
Saber no todo não sei/Mas, no particular/Posso transformar um
momento/Posso criar e fazer vento/Posso colorir e trazer alento.
Transformo a realidade do momento/Naquela letra/ que junta a esta/e
mais outra/comove o outro/por conseguir conter o inefável momento.
Eu sou amor/disso sei.
E que o amor/ não se baseia na verdade/está claro/Quando afirmo/ que
quem sou/não sei
Parece-me por vezes/que posso contar comigo/Está claro/ que por outras/
não sou ninguém.
Falar de mim:/como a rosa no jardim/ou o minuto no tempo/è revelar
segredos/pequenos demais.
se fosse eu/o tungstênio a impedir a fissão/ou a pedra de roseta a
permitir a comunicação/Seria adulto/Como precisa um homem de minha idade ser.
Quem sou afinal?
Pendo mais para o pai de Clark/que ao de Lex/ Sou muito menos Iris e
Jurema/Que precisava ser/ Estou mais para Prestes/ que para Olga/ Seria
Judas Iscariotes e jamais Paulo.
Marcela ou Saulo?/de A ostra e o Vento/ Nem Alexandre, O Grande/ Nem
Fernão Capelo Gaivota/Nem Bart Simpson/nem qualquer idiota/ do tipo de
Bob Esponja.
Melancólico
Metido a humilde/Senhor de nós apertados/Que não acredita/em contos
de fadas
Sylvio Neto