Horizonte de acrílico

Horizonte de acrílico

Sandra Ravanini

Um horizonte corrupto, eis o que persigo;

o despertar de outro dia míope, o conflito e o nó

arranhando as portas encarceradas, sem dó...

Heróis de pó! Quero acontecer, mas não consigo.

Leio a minha vida neste jornal de acrílico

cotidiano, hino invisível onde escarro

as especiarias vocais das cordas que eu amarro

em mim, enforcando os gritos oníricos.

Os meus restos vagueiam distantes e feridos;

os meus eus endurecidos e inacabados

fantasiam a ferrugem do eu hostilizado

no papel onde rasgo às iras, o fel invertido.

Dia onde leio a ferida corrupta que em mim dói

arranhando a vida e os restos agonizados;

quero acontecer mas não consigo, ó apagado

horizonte de acrílico, eis-te, míope herói.

29/04/2008