O dia em que o "doutor" foi enganado
Orlando, de família nobre,
jamais fora pobre.
Pisava as pessoas,
humildes, mas boas.
Formado em direito
estufava o peito, todo empertigado.
O nariz, empinado.
Andava assim, distraído
quando esbarrou em Jamil.
E Jamil, mil desculpas pediu.
Vê se olhas onde for,
Não vês que já sou dotor.
Nos olhos a raiva
e o anel que brilhava,
mais orgulho lhe dava.
Com uma faculdade és assim?
O que sobra pra mim, que fiz três,
uma de cada vez.
Os olhos de Orlando mudaram,
até a raiva sumiu.
E ele olhava Jamil
cheio de admiração,
estendeu-lhe a mão:
pediu perdão, cidadão,
o chamou de colega,
e estendeu-lhe um cartão.
Empinou o nariz e partiu.
Mas Jamil nem o viu
Pois olhava o cartão
a queimar-lhe a mão.
De que vale estudar
e deixar-se enganar
por um pobre peão.
Sim, três faculdades fizera,
lembrava Jamil
só não concluira a quarta
pois a obra faliu.
Hoje desempregado,
jogou o cartão amassado
em uma lixeira qualquer....
Quem, alguma vez, já não se portou como Orlando?
Quantos Jamil conhecemos?