Meus Amigos Estão Morrendo
Meus Amigos Estão Morrendo
Lá se vão eles na lata de lixo.
Acabei de rasgar agendas, fotografias, cartas e papéis antigos
de amigos, conhecidos, que não interessam mais,
não existem mais...
Não vai ser preciso ligar, telefonar nos aniversários, mandar cartões de Natal.
Eles já morreram ou foram embora...
Não vamos mais poder conversar.
Eram tão poucos, tão bons...
Quando estávamos juntos, quando nos falávamos,
discutíamos, comentávamos, ríamos,
mesmo por telefone. Escrevíamos-nos pouco.
Muitas vezes, juntos, próximos, os nossos silêncios bastavam.
Vivíamos a nossa amizade.
Não imaginávamos como éramos felizes: - hoje sei...
Gente nova é difícil de entender.
Falam outra língua. As piadas que contamos não os fazem rir.
Os livros que lemos e queremos comentar eles não leram
nem se interessam.
As peças de teatro que assistíamos,
Dulcina, Procópio, Ziebinsky, o Jaime Costa,
nem sabem quem são.
Restam as lembranças, lembranças e
algumas preces dispersas, sem que se saiba bem pra que.
Nenhum consolo. Solidão. Cansaço de recomeçar.
A cadeira predileta, último reduto a preservar
na total rendição à vida que se esvai.
Uma lágrima, um soluço,
um medo imenso também.
(Publicada in A Amada do Sonho, Frente Editora, 2001)