Os Passarinhos do Céu
Os Passarinhos do Céu
Estou preocupado.
Como, na plenitude instantânea
da contemplação do Pai Eterno,
o céu que acreditamos, onde não existe movimento algum,
não existindo tempo também,
os passarinhos saberão a hora certa de cantar?
As estridentes andorinhas, na manhã indistinta, ficarão desorientadas,
o canário-da-terra, o curió e o coleirinho voarão desarvorados,
o bem-te-vi, ao meio dia sem o sol a pino, emudecerá,
o sabiá, no entardecer indefinido, ficará quieto,
pousado em triste silêncio num galho de árvore,
se árvores por lá houver.
A desajeitada coruja no nunca dia nunca noite,
desesperada, sem piar, fechará definitivamente os olhos.
Assim,
sem o canto dos pássaros,
como louvar a Deus?
(Publicado im A Amada do Sonho, Frente Editora, 2001)